quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Real só o que de mim guardo e não vês…

Decidido subo hoje até ao telhado da vida
Aqui no alto, onde nem tu me vês…
Respiro fundo, saboreando a ausência da solidão
Solto sorrisos que se desdobram no horizonte
Acariciado pelo ténue vento que me despenteia
Recaio sobre pensamentos passados a teu lado
No bolso apenas o vazio, no peito jaze o teu perfume
Sob o meu rosto carente repousam as carícias
Ombros que abraçam as marcas de toda uma vida
Aqui no alto, sem razões ou porquês…
Descanso o peso das escolhas, bafejando espasmos de Amor
Lugar só meu, secreto, sem portas
Sem nada, sem ninguém, lugar deserto…
Aqui no alto, sou gente sou alguém que brilha, vive, respira e gosta de mim…

Tento fazer a diferença, mas as palavras rodeiam-me
Busco novas saídas, onde todos desistem
No mundo em que pondero a minha existência
Onde olho para quem já não derramo sentimento
Desafio o que outrora desejei… aqui onde nada perco
Aqui onde nada tenho, entupido pela hipocrisia de muitos
Amigos a quem recorremos… Amigos a quem desiludimos
Fustigado pela estupidez de uma vida que se arrasta
Refugio-me na curta felicidade da pobreza de espírito alheia
Pendurado na esquina da imortalidade, recuo por quem desejo
Fraco como um dia me fiz… empurrado pelo vento da sorte
Acordo na maré que me arrasta, cruzando as partes tenho em falta

No desamparo, na solidão, no desespero
Na vida que levo, já sem emoção
No dia a dia que se promove rotineiro
Recolho as asas brancas que ergui outrora
Em tempos que já lá vão… apagados pela ausência
Vigora a mente que me arrasta para o lado negro
Aqui onde vês o que não sou…
Aqui onde abraças a mascara que me esconde…
Tranco o melhor que resta em mim
Usurpando o calor alheio, que acredita no que em mim morreu
Vou assim dia bolando nas vidas que não escolhi
Descortinado o destino que pára e ri
Viajo na sorte que roubo de ti
Afastando o sol, proliferando o ódio adormecendo o rancor
Fecho o olhar, foge-me a voz, perco-me
Desarmo o inferno… sem sentido aqui me encontra
A espera, que anseia por alguém que me salve daqui…

Aqui me reencontro, através do manto negro
Olhando pela escuridão que me acompanha
Sedento de raiva… sem medo ou pudor
Devastando o que a minha sombra recolhe
Atropelo os sentimentos que te respeitam
Sem toque, sem sabor alcanço o que te pertence
Usurpando o brilho que te resta…
Devastadora a minha sede que te desertifica
Dominado o que nem a nós pertence
Vagueio pelo teu lado fraco, dissecando-te o Amor
Parto sem Adeus… desapareço ressequindo-te
Deixando-te sem alma.. vida e calor…

Refugio-me por segundos aqui
No sonho das palavras, onde repouso
Longe das frustrações, longe das multidões
Preenchido aqui por mim apenas
Domino o que lá fora desejo mas não alcanço
Aqui recheado de anjos que completam
Vigora por letras que formam mensagens
A linha do pensamento que tu absorves
Daquilo que lês, parte de um sonho que repouso
Real só o que de mim guardo e não vês…

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